"Protesto dos estudantes foge do controle em Florianópolis
Manifestantes acuaram a polícia e tentaram atear fogo à Câmara de
Vereadores"
Os estudantes que se manifestam desde segunda-feira contra o
aumento nas passagens de ônibus provocaram um quebra-quebra em
Florianópolis nesta quinta-feira, dia 2. A multidão de quase 4 mil
pessoas conseguiu acuar a polícia e tentou colocar fogo no antigo
prédio da Câmara de Vereadores, edifício tombado pelo patrimônio
histórico.
Manifestantes e policiais militares se enfrentaram na Avenida Paulo
Fontes, no Centro de Florianópolis, às 19h30min. Enquanto bombas de
gás explodiam e tiros de borracha eram disparados, o prefeito Dário
Berger tentava negociar com representantes da Câmara de Vereadores,
da Igreja, do Comitê de Resistência ao Aumento da Tarifa, do Núcleo
de Transportes e de associações de moradores.
Foi a primeira tentativa formal de apaziguar os conflitos que
derivaram para o pânico, correria e vandalismo nesta quinta-feira.
Por volta das 19h, parte da passeata que rumava para a Ponte Colombo
Salles se desgarrou do grupo principal e atravessou o Terminal Rita
Maria sem provocar incidentes.
A tropa de choque já esperava pelos estudantes no trevo da
rodoviária. A multidão sentava-se no chão quando a polícia militar
(PM) avançou utilizando mais uma vez bombas de gás lacrimogêneo,
balas de borracha e cães. Os manifestantes revidaram com pedras e
rojões.
A partir deste momento o pânico se instalou entre os 3 mil
estudantes, que se reagruparam defronte ao Terminal Integrado do
Centro (Ticen). Dentro do Ticen a confusão foi ainda maior,
envolvendo manifestantes, seguranças e a tropa de choque. Líderes do
movimento, com o caminhão de som, tentaram em vão acalmar a multidão.
Cada bomba de efeito moral provocava uma correria generalizada pela
praça da Alfândega.
Quando a situação parecia controlada, um grupo de aproximadamente 100
manifestantes iniciou o vandalismo quebrando a pedradas dois
semáforos na Avenida Paulo Fontes. Logo eles haviam derrubado uma
grade e depredado a sede da Cotisa, empresa que gerencia o sistema
integrado de transporte coletivo.
Acossados pela PM, eles seguiram pelas ruas do Centro provocando
destruição. Munidos de pedras e sob vaias da maioria, os vândalos
apedrejaram o posto da polícia na Alfândega.
A tropa de choque que aguardava em frente à Câmara de Vereadores
fugiu diante da turba. Todos os vidros do prédio do Legislativo foram
quebrados e a porta principal, arrombada a pontapés. Depois de um
princípio de incêndio no hall da Câmara, a PM retornou à Praça XV e
os manifestantes fugiram rumo ao Teatro Álvaro de Carvalho.
No rastro, estouraram vidros e portas de pelo menos quatro agências
bancárias (Itaú, Banco do Brasil, Mercantil do Brasil e Safra) até
chegarem à praça Pereira Oliveira. Perseguidos pela tropa de choque,
os vândalos se dividiram em grupos pequenos em correria pelas ruas do
Centro da Capital.
Na mesa de negociação, o representante do Comitê de Resistência
Matheus de Castro avisou que os líderes do movimento haviam sido
presos e que não havia como controlar a multidão. O prefeito expôs,
diante da comissão, que não há meios de revogar o decreto que
reajustou as tarifas.
Segundo Dário Berger, a prefeitura não pode desrespeitar a decisão
judicial que autorizou o aumento. O reajuste, de acordo com o
procurador do município, Jaime de Souza, é fundamental para que o
sistema de transporte continue funcionando.
A tentativa de acordo foi proposta pela Câmara de Vereadores e pelo
arcebispo de Florianópolis, Dom Murilo Krieger. A reunião começou às
17h na câmara e passou depois à prefeitura, até por volta das 22h,
quando o prefeito saiu escoltado pela tropa de choque.